segunda-feira, junho 20, 2011

Cobertura inusitada

FERNANDO SILVA

* Texto originalmente publicado no site Grande Prêmio em 20 de junho de 2011

Desde que entrei para o Grande Prêmio, em março de 2010, já viajei mais do que já havia feito antes em toda minha vida. Conheci muitos lugares, como Goiânia, Palmas, Fortaleza e o Jalapão, e voltei para outros de tão agradabilíssima lembrança, como Buenos Aires. Mas o último fim de semana, em São Paulo, perto de casa, marcou talvez uma das coberturas mais inusitadas da minha curta carreira.

Além de setorista ralizístico do site, função que desempenho com enorme prazer, venho fazendo a cobertura da Porsche Cup desde maio, quando voltei à capital argentina, e também tenho cumprido a atividade com grande gosto. Conheci pessoas importantes na carreira; aos poucos, passo a ganhar o respeito das pessoas e também o reconhecimento dos pilotos, e mais importante que tudo, tenho acumulado muita experiência.

São Paulo: cada vez mais saturada. Crédito: Agência Estado
Depois de passar por Buenos Aires e pelo Velopark, era chegada a hora da etapa de Interlagos. E lá fui eu, com a habitual ansiedade e muita disposição. Incrivelmente, ou não, cheguei em Interlagos mais de cinco horas depois de deixar Sumaré. Ônibus do bairro para o centro da cidade, outro do centro de Sumaré para Campinas, mais um de Campinas rumo a São Paulo, um metrô do Tietê ao Jabaquara, e por fim, o último ônibus rumo a Interlagos.

É cada vez mais difícil transitar por São Paulo, cidade bastante saturada há muitos anos. Eu, como oriundo do interior, às vezes ainda me impressiono um pouco. Normal. Mas a epopeia fora cumprida, e lá estava eu presente ao templo sagrado do automobilismo brasileiro, como eu gosto de dizer.

Ainda na sexta, fui surpreendido com um convite para ser comentarista por um dia no Speed Channel em espanhol. O fato é que o titular da posição não estava lá muito bem de saúde e fui chamado para ficar de stand-by. Eu prontamente aceitei, mas com a absoluta certeza de que não estrearia na televisão no dia seguinte.

Sem pensar muito nisso, já estava planejando o descanso depois de tamanha maratona para chegar em São Paulo. Mas com os hotéis da região de Interlagos lotados, restou a mim uma vaga em um motel lá perto, na rua do portão 7. Confesso que foi estranho, jamais havia ido a um motel sozinho. Quando você está sozinho, solteiro, às vezes um motel não é lá um lugar de boas lembranças. Mas ignorei os fatos. O quarto era bem honesto até... Não preciso de muito, pra falar a verdade, não ligo nada para conforto. Apenas um chuveiro e uma cama bastam para mim. Chegou a manhã, pedi o café da manhã e tal... veio até uma jarrinha de leite. Mas eu, Fernandão, tomar leite em motel? JAMAIS.

Pontualmente às 8h, já estava a postos lá na sala de imprensa de Interlagos para aquele que seria o dia de trabalho mais louco da minha curta carreira. Depois de falar com os guerreiros na redação, fui confirmado como comentarista oficial da prova para a América Latina. E lá fui eu com o cu na mão, mas fui.

Em tempo: nem mesmo na minha gloriosa faculdade de jornalismo eu tive muitas aulas de televisão. Experiência zero. Lá fui eu, nervoso e trêmulo para comentar as três corridas da Porsche Cup — duas da Cup e uma do Challenge — para toda a América Latina. Não fui lá muito bem, é preciso dizer. O nervosismo ajudou (ou atrapalhou), e troquei várias palavras e confundi os idiomas em outras tantas vezes. Era o Vanderlei Luxemburgo, mestre do idioma espanhol em sua jornada pelo Real Madrid, sua versão sumareense. Sobrevivi, depois de suar muito, como diria um amigo meu, e estou aqui para contar essa estreia desastrosa na televisão mundial. Mas valeu.

Passado o nervosismo e as transmissões, quando saí da cabine, dei de cara com Alexandre Barros, um mito da motovelocidade. Não é qualquer um, como mostra o vídeo abaixo. Eu me lembro de ter visto o cara correr desde 1990, quer dizer, desde quando tinha dez anos. Sinal que o Fernandão tá ficando velho. Vi o Alex falando sobre sua lesão no ombro e seu processo de recuperação. Vale lembrar sempre que o Barros correu (e bem) na Porsche Cup no ano passado. É provável que ele volte em breve.



E finalmente, depois de muita batalha e procura, consegui achar o Rodrigo Pessoa, o ‘alvo’ do fim de semana. Eu e mais dois colegas de trabalho tivemos de esperar o cavaleiro, e agora piloto, sair do banheiro para agilizar a entrevista. Foi a primeira vez que entrevistei um campeão olímpico. Mas acho que quem ganhou a medalha de ouro fui eu. O fim de semana mais louco, inusitado e completo da minha carreira terminou assim, com chave de ouro. 

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